"O ser humano é uma obra prima que não se repete."

quarta-feira, 26 de junho de 2013

MUSICOTERAPIA

OS BENEFÍCIOS DA MUSICOTERAPIA EM DIFERENTES SITUAÇÕES:


 A música é a arte da combinação de sons e ritmos harmônicos e melódicos, seguindo uma pré-organização ao longo do tempo. É conhecida como prática pré-histórica, provavelmente decorrente dos sons da natureza, sendo aperfeiçoada ao longo do tempo de acordo com a prática natural humana. É característica peculiar, visto que cada civilização possui seus diferenciais. Dentre as várias utilidades da música, tem-se o efeito terapêutico, também utilizado desde os primórdios e documentado em diferentes períodos. Vários benefícios foram registrados em diferentes culturas.

O interesse da música sobre a saúde começou a surgir a partir do século XXI, especialmente sobre o controle e redução da dor. Além disso, a importância da interação entre paciente e música auxilia na promoção da saúde através de experiências musicais. O mecanismo ainda permanece obscuro, mas a hipótese fisiológica é a liberação de peptídeos opióides endógenos, como a endorfina, através da etimulação da glândula pituitária. Há, então, a redução da dor e da necessidade de anestésicos. A redução das frequências cardíaca e respiratória parece estar associada à redução das catecolaminas. Foi encontrada, também, a redução da ansiedade, especialmente presente em pacientes hospitalizados. Sons ritmados e harmônicos podem aliviar dores físicas e emocionais, além de agir em parâmetros hemodinâmicos.

No estudo realizado por HATEM et al. foi encontrada a minimização dos distúrbios cardíacos em repouso, relaxamento muscular e benefícios no sono. É importante salientar que se adequou a música ao gosto do indivíduo. Constatou-se, também, a necessidade de mais estudos com o foco no ritmo, tempo, harmonia e timbre; a fim de concluir-se exatamente as alterações que cada um traz durante a terapia.

No estudo de ARNON 2011, a música foi usada em mães lactentes na unidade de terapia intensiva, sendo submetidas a 3 sessões por semana com duração de 1h. A preferência da música é de ninar, com tom mais baixo e um ritmo mais lento, visto que música clássica pode ser inadequada por gerar um estado de alerta. A expressão verbal, expressão musical, canções de ninar, relaxamento e encerramento foram empregados, resultando no aumento do aleitamento materno. Esses resultados foram observados até 60 dias após o término da terapia. Além disso, os benefícios maternos se estenderam à redução da ansiedade, mostrando-se mais eficaz quando associada ao contato com o filho. Os lactentes, por sua vez, apresentaram ganho de peso, redução dos comportamentos de estresse e do tempo de hospitalização, níveis elevados de oxigênio por curtos períodos de tempo. As canções de ninar administradas simultaneamente à sucção da chupeta potencializou-a.

Diferentes métodos de musicoterapia foram empregados, sendo eles música gravada, música ao vivo, uso de instrumentos, voz feminina terapeuta e voz materna. Através da música ao vivo feminina com o uso de harpa, foi possível observar redução na frequência cardíaca e redução da ansiedade em lactentes prematuros estáveis. É importante salientar que o lactente é inábil para diferenciar música de barulho ambiente dos 9 aos 12 meses e que o reconhecimento da voz da mãe tem início antes dos 24 meses. Não há registro de pesquisas que envolvam sons produzidos por brinquedos e rádios, no entanto sabe-se que possuem som superior ao considerado inofensivo à audição humana. Constatou-se, também, que o cantar da mãe, especialmente simultâneo a outros estímulos como o contato com a pele, é uma maneira mais eficaz de promover o relaxamento para lactentes.

Uma pesquisa norte-americana realizada em 2006 constatou que 72% das UTIs neonatais já adotaram a musicoterapia para lactentes prematuros. Nos estudos realizados até o presente momento, a música conferiu tranquilidade aos pais e à equipe da saúde, não trazendo malefícios ou quaisquer contra-indicações.

A ansiedade é um fator que pode frequentemente alterar os parâmetros cardiovasculares, podendo agravar a dor no pós-operatório. Para seu dimensionamento há a Escala de Ansiedade, cuja sigla é STAI (State Trait Anxiety Inventory). Nesses casos, são administrados ansiolíticos, especialmente benzodiazepínicos; tem-se efeitos colaterais como agitação, hiperatividade e amnésia prolongada. NOCITI 2010 teve como objetivo a análise da terapia musical como efeito anestésico e foi realizado com fones de ouvido conectados a CD players, sendo a seleção das músicas realizada por terapeutas musicais. Para a finalidade de anestesia, foi empregada música relaxante, excluindo a música lírica e as que possuem elevada amplitude dinâmica em virtude de serem hiperativadoras.

Constatou-se redução no consumo de drogas para sedação pré-anestésica e redução da resposta ao estresse em pacientes ambulatoriais no intraoperatório. Portanto, a musicoterapia mostrou-se tão eficaz quanto benzodiazepínicos para controle de ansiedade. Esse estudo mostrou a grande importância da implementação de programas de terapia através da música por anestesiologistas, com ênfase em pacientes ambulatoriais. É interessante, também, a implantação em salas cirúrgicas para os próprios médicos e demais terapeutas se beneficiarem.

A musicoterapia também mostrou-se eficiente quando implementada em pronto-socorro adulto de médio porte. A partir da aplicação de música erudita, 78% percebeu alterações no ambiente de trabalho com a presença de música e 41% acreditou haver melhora individual no desempenho de cada profissional, ajudando em sua organização.

Seu uso também foi pesquisado em pacientes em coma, tanto fisiológico como induzido. O coma é caracterizado por perda total ou parcial da consciência, sendo decorrente geralmente de lesões cerebrais, intoxicação, problemas metabólicos ou endócrinos. Até o presente momento não é possível saber detalhadamente sobre a percepção auditiva e o que acontece no cérebro de pessoas em coma. Entretanto, sabe-se que a audição é o último sentido a ser perdido. Por isso, é necessária cautela com o que é dito à beira do leito.

PUGGINA et al. 2009 realizaram uma pesquisa utilizando o ambiente sonoro com pacientes em coma, submetendo-os a 3 sessões diárias. A expressão facial antes do início de cada intervenção foi observada e anotada. Ao final de cada uma, a expressão foi filmada para posterior visualização e comparação. A escolha da música ocorreu de acordo com o paciente, faixa etária, nível social e origem etnológica. Preferencialmente escolheu-se músicas relacionadas a um momento significativo na vida do paciente, personalidade, experiências relevantes e positivas antes do coma; sendo elas as mais eficazes durante a terapia. Exemplos de reações positivas observadas foram aumento das frequências cardíaca e respiratória, rubor na face e reações comportamentais. Mudanças na respiração também ocorreram, assim como movimento motor fino, abrir e fechar das mãos e rotação cervical. Quando o terapeuta começou a cantar ocorreu aumento da frequência cardíaca, talvez pela tentativa de orientação e reconhecimento do estímulo. Durante o estudo também foi possível observar a relação do paciente com os familiares, assim como entrar em contato direta ou indiretamente com a história particular de cada um deles.

Apesar de serem necessárias mais pesquisas a respeito da musicoterapia, são incontestáveis os benefícios que traz tanto ao paciente quanto à equipe profissional.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


1. HATEM, T. P.; LIRA, P. I. C.; MATTOS, S. S. Efeito terapêutico da música em crianças em pós-operatório de cirurgia cardíaca. Rev. Pediatr., v.82, n.3, 2006.

2. ARNON, S. Intervenção musicoterápica no ambiente da unidade de terapia intensiva. J. Pediatr., 87(3):182-185.

3. NOCITI, J. R. Música e Anestesia. Rev. Bras. Anestesiol. v.60, n.5, set./out., 2010.

4. GATTI, M. F. Z; SILVA, M. J. P. Ambient music in the emergency services: the professionals' perception. Rev. Latino-am. Enferm., 15(3):377-83, mai./jun., 2007.

5. PUGGINA, A. C. G.; SILVA, M. J. P. Sinais vitais e expressão facial de pacientes em estado de coma. Rev. Bras. Enferm., 62(3):435-41, maio/jun., 2009.

6. Dicionário Aurélio do Século XXI.




  

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